Apresentação

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O Colóquio de Estudos em Narrativa (CENA) chega a sua sexta edição e terá como foco a narrativa de ficção científica, seja na literatura, no cinema e em outras materialidades artísticas. O evento, que é organizado pelo Grupo de Pesquisas em Espacialidades artísticas (GPEA) destina-se a abrir o espaço da universidade para atividades que têm como cerne a reflexão sobre o discurso narrativo literário As temáticas abarcadas pelas edições do evento procuram contemplar as linhas de pesquisa do GPEA e assuntos de interesse comum no campo da literatura para pesquisadores e professores. Nesse sentido, foram os seguintes temas focalizados: CENA I: o espaço, CENA II: história e ficção no universo do fantástico, CENA III: as literaturas infantil e juvenil … ainda uma vez, CENA IV: a ficcionalização do medo na narrativa e o CENA V: No território de Mirabilia: Teorias e práticas do maravilhoso.

Qual a importância de um evento com enfoque sobre a literatura de ficção científica?

Em primeiro lugar destacamos a relação antagônica entre a popularidade do gênero e seus estudos em nosso país: se por um lado é grande a produção, tanto na literatura quanto no cinema e outras mídias, e existe um diverso e imenso grupo de fãs, por outro, os estudos acerca dessa literatura ainda ocupam uma posição marginal. Acreditamos que seja necessário que lancemos um olhar mais atento a esse tipo de escritura que se relaciona com os mais diversos tipos de conhecimentos, sejam eles exatos, humanos, linguísticos e/ou biológicos.

A teórica estadunidense Rachel Haywood Ferreira em seu ensaio “De volta para o futuro: a expansão da ficção científica latino-americana” afirma que:

O interesse contemporâneo na identificação, “retrorrotulagem” e republicação das obras que formam o corpus local da ficção científica latino-americana é indicativo de maturidade crescente do gênero no continente, assim como deriva do desejo de entender a natureza e ampliar a participação nesse gênero hoje globalizado. Estas tendências recentes significam que a escrita, a leitura, o ensino e a pesquisa no campo da ficção científica latino-americana são agora uma experiência mais ampla e complexa do que se constatava a anos atrás. (2009, p.153)

Acreditamos que nosso evento contribuirá para trazer essas discussões para o âmbito da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e auxiliará os alunos, pesquisadores e professores do campo dos estudos literários como um todo a entrarem em contato com teorias e pesquisas que já encontram expressividade em diversos países da América Latina e sempre foram proeminentes nos países do hemisfério norte.

O interesse estrangeiro na ficção científica produzida no Brasil e nos demais países da América Latina, como o das teóricas estadunidenses Rachel Haywood Ferreira (The Emergence of Latin American Science Fiction) e Elizabeth Ginway (Latin America Science Fiction: Theory and practice, Ficção Científica Brasileira: Mitos Culturais e Nacionalidade no País do Futuro e Visão Alienígena: ensaios sobre ficção científica brasileira), demonstram a necessidade de que nossas universidades também busquem pela pesquisa da ficção científica e demonstra ainda a importância da criação de espaços para o encontro e apresentação dos estudiosos que se encontram dispersos no Brasil.

Acreditamos que o CENA VI virá para se somar ao crescente esforço de teóricos latino-americanos, como Mauricio-José Schwarz, responsável ao lado de Haywood Ferreira pelo verbete “Latin America”, na Encyclopedia of Science Fiction; a argentina Silvia Kurlat Ares, pela organização de duas edições da Revista Iberoamericana acerca da ficção científica latino-americana (Vol. LXXVIII, N.o 238-239 janeiro-junho 2012 e Vol. LXXXIII, N.o 259-260, abril-setembro 2017); o venezuelano Daniel Arella, pela recente organização da antologia Relatos pioneros de la ciencia ficcion latinoamericana, bem como revisitará alguns estudiosos brasileiros que há alguns anos atrás buscaram pensar a ficção científica, como Roberto de Sousa Causo (Ficção Científica, Fantasia e Horror no Brasil: 1875 a 1950), que além de ser um escritor de ficção científica contribuiu para a teorização dela em nosso país, bem como organizou antologias de contos e novelas de ficção científica (Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica, As Melhores Novelas Brasileiras de Ficção Científica e outras), Bráulio Tavares (O que é ficção científica?) e Roberto Belli (Ficção científica: um gênero para ciência).

Acreditamos ainda na necessidade de maior aproximação da ficção científica dos estudos literários para que dessa forma muitos dos preconceitos que circundam o gênero possam ser repensados.